Sangy

Glorioso

Textos

Santa Ceia
Não!
Eu fiquei aqui para amar-Te Senhor!
Não entendia das agruras da vida que me falavas
Só sei que risquei o chão para chamar o sol
Que cantei pra chamar o vento:
"Vem vento catinguelê, cachorro do mato quer me morder" 
Que dancei pra chamar a chuva
Ah! minha infância, qual o canto?
Pra te chamar de volta?
Queria voltar lá para entender
Tanta pureza tua.

Não tinha sabedoria mas tinha amor
Chamava  por Deus
Só pelo olhar, não sabia rezar
Pequeninos pensam que sabem pensar 
Mas entendem estar certos e estão 
E Deus lá de cima,
Empoeirado na parede,
Cravado no quadro da Santa Ceia
Ele sustentava calado minhas carências
Quanta vida havia naquele semblante

Sem acreditar que podia crescer, cresci
Mesmo sem saber para quê
Eu me confortava na força do nosso olhar
Há tempos trocados 
Amava ter Deus pregado na parede só para mim
E Ele partilhava comigo a miséria
A miséria nossa de cada dia
O pensar silencioso do meu coração de criança
Só me via crescer desde a infância 
Pulsava, batendo, vivendo de amor
No ritmo e na cadência ele insistiu
E esse coração danado chorava,  às vezes quase parava
Eu senti e mais ninguém mais sentiu comigo
Ah! esse Deus, nunca me tirou a essência
Eterna de criança e, quem em mim repara,
Vê-me aporrinhado e desarrumado, pois, agora 
Durante meu dia, penso que cresci enfim
Durante a noite agradeço, quando posso.

Mas a minha vontade de voltar a ser criança
De riscar, cantar,  dançar
E descobrir as sombras da infância
Tudo é igual ao infinito amor
D'Ele por mim.




Sangy
Enviado por Sangy em 31/12/2017
Alterado em 04/03/2024


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